No mês de março, um importante alerta à saúde da mulher ganha espaço, como forma de contribuir para a conscientização sobre endometriose.

A campanha Março Amarelo tem como objetivo levar conhecimento para que as mulheres tenham maiores informações sobre a endometriose e tirem dúvidas sobre a doença, pois apesar de um número elevado de mulheres acometidas, o diagnóstico pode levar anos: são anos de dores crônicas, dor na relação sexual e muitas vezes infertilidade.

Os indicadores da doença chamam atenção: cerca de 8 milhões de brasileiras convivem com este diagnóstico, segundo o Ministério da Saúde.

 

Como ocorre a endometriose

A endometriose é definida como glândulas endometriais e estroma fora da cavidade uterina, ou seja, a doença ocorre quando células endometriais ectópicas se implantam fora do útero e causam uma reação inflamatória.

Essas células são do mesmo tecido que reveste a camada interna do útero, chamada de endométrio, o qual responde ao ciclo hormonal feminino, e descama durante o período menstrual. A endometriose é uma doença estrogênio-dependente, por responder à oscilação hormonal.

O local mais comum de ocorrer é a pelve, mas pode acontecer também no intestino, diafragma, pleura, dentre outros locais.

Apesar de ser uma doença benigna, pode causar sintomas variáveis, desde a ausência de sintomas até sintomas debilitantes. É uma doença completamente heterogênea, algumas mulheres mesmo apresentando pouca doença, apresentam muita dor e outras com doença grave e nenhuma dor.

 

Sintomas da endometriose

Os sintomas mais comuns são cólicas menstruais, dor pélvica crônica, dor na relação sexual, infertilidade, disfunção e/ou dor para urinar e para evacuar, sangramentos retais e/ou urinários, sangramento uterino anormal, dor lombar baixa e fatiga crônica.

Ela acomete cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva, mas naquelas mulheres que apresentam esses sintomas a prevalência é muito maior, alguns artigos encontram taxas de 40-50% de prevalência em mulheres com infertilidade e 70% em mulheres com dor pélvica.

 

Quais são as causas da endometriose

A causa da endometriose não é completamente conhecida, mas acredita-se ser multifatorial, uma associação do tecido endometrial ectópico, imunidade alterada, proliferação celular desequilibrada, sinalização endócrina anormal e fatores genéticos.

O avanço da medicina permite cada vez mais um diagnóstico assertivo. A tecnologia, alinhada à experiência atual dos especialistas em endometriose, sem dúvida, são grandes aliados nesta jornada. 

Hoje, temos disponíveis exames de imagem de qualidade, como a ressonância magnética da pelve ou ultrassonografia com preparo intestinal, que permitem a identificação de endometriose ovariana e lesões endometrióticas profundas. E quando os exames não são disponíveis (como ocorre em muitas cidades) ou quando encontram-se normais naquelas mulheres com sintomas sugestivos de endometriose, a cirurgia videolaparoscópica permite a visualização das lesões, permitindo o diagnóstico das lesões superficiais, que não são visíveis nos exames de imagem. Durante a cirurgia é possível fazer o diagnóstico e tratamento no mesmo momento.

 

Tratamento da endometriose

O tratamento deve ser planejado e individualizado, cada caso é único, e muitas vezes necessita equipe multidisciplinar, com fisioterapeuta pélvico, acupunturista, psicólogo, nutricionista, educador físico, ginecologista e as vezes, gastroenterologista e urologista.

Quando possível, inicialmente é indicado o tratamento clínico, com objetivo de controlar os sintomas. Podem ser propostas pela equipe médica alternativas para bloqueio hormonal, dentre opções orais, transdérmicas, injetáveis, sistema intra-uterino Mirena e implante contraceptivo Implanon, entre outras..

Porém, nos casos em que não há melhora dos sintomas com o tratamento clínico, será necessário o tratamento cirúrgico com a retirada completa dos focos da endometriose e restabelecimento da anatomia. 

Outra indicação cirúrgica é a infertilidade, que acomete cerca de 40% das mulheres com endometriose. Hoje, sabemos que a cirurgia aumenta as taxas de gestação natural espontânea. 

O tratamento adequado consegue restaurar a qualidade de vida da mulher e muitas vezes contribuir para uma gestação desejada.

Quando se trata de saúde, informação nunca é demais. Neste mês dedicado às mulheres, nada mais importante do que mostrar como a rotina de cuidados com a saúde íntima é importante. O melhor entendimento sobre a complexidade desta doença possibilita o acesso ao diagnóstico rápido e ao tratamento preciso.

O principal objetivo da campanha é demonstrar para as mulheres que NÃO é normal sentir dor!

Conhece alguma mulher que sofre com dores? Leve essa informação para ela também! 

 

Fonte: Dra Juliana Olavo Pereira – Ginecologista, especialista em cirurgia ginecológica minimamente invasiva  – CRM 26963 PR RQE 17573 RQE 20742