Fonte: Gazeta do Povo
Elas surgiram há mais de um século como uma alternativa corretiva, terapêutica e cosmética para os olhos. Colocadas sobre a córnea, as lentes de contato se modernizaram tanto ao longo dos anos que, atualmente, é quase impossível não encontrar uma lente ideal para cada paciente, considerando todas as suas particularidades.
Porém, com o uso prolongado, será que os olhos chegariam a um limite de tolerância em relação ao uso de lentes? Para o médico oftalmologista Flávio Bassoli, da Paraná Clínicas e Hospital Israelita Albert Einstein, a resposta é não.
Segundo ele, esses dispositivos estão tão avançados que muitos pacientes podem até mesmo não perceber um problema ocular durante seu uso. Isso acontece, especialmente, porque as lentes atuais são muito mais gelatinosas em relação aos modelos fabricados anteriormente. Como eram duras (ainda há as rígidas, porém, muito mais confortáveis), qualquer incômodo levava o paciente a suspender o uso e buscar ajuda médica.
Mesmo sem queixas específicas, todo e qualquer paciente usuário de lentes de contato é candidato a uma revisão de rotina, justamente porque o conforto promovido pelas lentes mais modernas, que praticamente camufla outros sinais, pode ocultar eventuais danos aos olhos. A recomendação geral é seguir à risca o que dizem o médico e o fabricante.
Da lente para o óculos
Ao menor sinal de qualquer incômodo – especialmente visão embaçada, irritação e dor, sensação de corpo estranho (como um cisco ou “areia” nos olhos), vermelhidão ou secreção, o usuário de lentes deve procurar um especialista — a investigação do médico oftalmologista vai indicar a melhor conduta terapêutica e, durante o tratamento, pode ser necessário que o paciente dê uma pausa no uso das lentes e passe a usar óculos de grau.
“Uma vez resolvido o problema e com os olhos novamente saudáveis, não há contraindicação para a retomada da lente mais adequada para cada caso”, diz o médico oftalmologista Flávio Bassoli.
Até mesmo pacientes portadores de ceratocone, uma condição em que a córnea se projeta para fora em sentido de cone, e que provoca uma deformação progressiva dessa membrana, encontram no mercado lentes específicas e personalizadas (sempre rígidas) para cada caso. Em comparação aos óculos, elas, inclusive, constituem a melhor alternativa para corrigir a refração da imagem e melhorar a qualidade de vida desses pacientes. Tudo, é claro, dentro de uma abordagem bem individualizada.
Higienizar é preciso
Não basta contar apenas com as propriedades das lentes para garantir a saúde dos olhos. Todo usuário de lentes de contato deve manter uma rotina rigorosa de higienização com produtos específicos. As soluções utilizadas para a limpeza devem, de modo geral, ser usadas, no máximo, por três dias. Os usuários devem cuidar para não levar a mão aos olhos, não utilizar água corrente para a higienização das lentes e evitar o soro fisiológico, que não consegue tirar todos os resíduos.
Uso estético
Pessoas que usam lentes de contato coloridas para fins estéticos não estão livres da consulta com oftalmologista. Assim como para as lentes com finalidades terapêuticas, o uso deve ser extremamente bem indicado. A rotina de limpeza também deve ser tão disciplinada quanto.
Dormir, nem pensar?
É o que praticamente todo paciente usuário de lentes de contato ouve de seu médico. Tirar para dormir é imprescindível, uma vez que o uso prolongado favorece infecções que podem até mesmo levar à cegueira. Outros riscos são inflamação (ceratite), irritação, úlcera e o crescimento de novos vasos sanguíneos na córnea, uma condição chamada neovascularização, que representa uma tentativa do organismo em resolver uma contundente necessidade de oxigenação.
Diferentes tipos
A característica que mais costuma diferenciar tipos de lentes de contato diz respeito ao tempo de uso. As lentes de contato de uso prolongado são as mais conhecidas. Descartáveis, algumas são feitas para durar 30 dias a partir da abertura do lacre da embalagem.
Um erro comum dos usuários é pensar que as lentes são feitas para ser usadas 30 vezes. Independentemente de quantas vezes elas forem usadas pelo paciente no período, sua validade é de um mês. Todavia, há lentes com tempo maior de vencimento e outras para utilização única. Não respeitar o prazo pode comprometer a passagem de oxigênio e a curvatura, além de favorecer o surgimento de depósitos de gordura, proteínas e debris, que aumentam o risco para infecções e hipoxemia da córnea (falta de oxigenação).
Em relação ao material de fabricação, as rígidas costumam ter maior durabilidade. Lentes gelatinosas e de materiais como silicone, por exemplo, fazem mais sucesso em função do conforto que oferecem, o que facilita a adaptação do usuário. Com a tecnologia em constante evolução, todos os modelos contam com boa capacidade de permeabilidade de oxigênio, que representa a capacidade que o material tem de deixar a córnea “respirar”. Com isso, as chances de complicações decorrentes do uso também são reduzidas.
Uso contínuo
Há no mercado lentes de contato de uso prolongado feitas para ser usadas por até sete dias seguidos, confeccionadas em silicone hidrogel. Alguns modelos podem chegar até mesmo a 30 dias de uso contínuo. Esse material permite uma passagem maior de oxigênio para o olho, embora todas as lentes bloqueiem certo fluxo.
Vale conversar com o especialista para definir se essas lentes são verdadeiramente úteis, se atendem o grau de tolerância do paciente para uso noturno e se tornam a pessoa, dentro de todos os requisitos, uma boa candidata ao uso (algumas doenças oculares podem se beneficiar desse tipo). De modo geral, até mesmo os usuários de lentes de uso prolongado recebem instruções para lembrar de retirá-las, quando possível, antes de dormir.