À medida que a discussão sobre a manutenção da qualidade de vida no tratamento de doenças graves ganha cada vez mais espaço na mídia em geral e nas próprias diretrizes do sistema de saúde, os cuidados paliativos surgem como uma abordagem essencial ao tema. Ao longo deste processo de atenção especial contra uma enfermidade, é importante não apenas oferecer suporte físico e emocional aos pacientes e aos seus familiares, como também integrar esses cuidados, garantindo que todos tenham acesso a procedimentos dignos e humanizados, promovendo assim maior conforto, cuidado e proteção. De acordo com o Ministério da Saúde, atualmente cerca de 625 mil pessoas necessitam de cuidado paliativo no Brasil.
Muitas pessoas associam os cuidados paliativos, necessariamente, aos pacientes oncológicos, em tratamento contra o câncer. Na realidade os cuidados paliativos podem ser aplicados a qualquer paciente que tenha algum tipo de enfermidade que cause risco à vida. Eles podem se estender também aos enfermos com problemas cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, síndrome da imunodeficiência adquirida, esclerose múltipla, artrite reumatoide, doença de Parkinson e até mesmo a diabetes.
De acordo Laís Helena Silva Santos, gerente médica da Paraná Clínicas, uma das principais operadoras de planos de saúde corporativos do estado, ao contrário do que muita gente pensa, os cuidados paliativos não são sinônimo de morte e não devem ser indicados somente para pacientes que estejam em fase final de vida. Segundo ela, paliar um paciente não significa abandono e muito menos limitação de tratamento. Um paciente pode ser acompanhado pelos cuidados paliativos mesmo que esteja realizando tratamento curativo. “Os cuidados paliativos tem o objetivo de oferecer qualidade de vida, alivio de sofrimento e dignidade até o ultimo dia de vida, respeitando sempre valores e crenças pessoais”, afirma a especialista.
Normalmente o cuidado paliativo é prestado por uma equipe multidisciplinar composta por médico, enfermeiro, psicólogo, capelão e nutricionista, podendo também agrupar outros profissionais, com o objetivo de trabalhar todas as vertentes do sofrimento humano, como a parte física, emocional, social e espiritual. Esses cuidados continuam mesmo após o óbito do paciente.
Em razão da crescente incidência de doenças crônicas, a Paraná Clínicas montou um programa para acolher e cuidar dos beneficiários que necessitam dos cuidados paliativos. “Contamos hoje com uma equipe multidisciplinar treinada para identificar, cuidar e acolher esses pacientes. O cuidado é prestado em nível ambulatorial, hospitalar e principalmente domiciliar”, pontua a médica.
Em que momento deve ser realizado o cuidado paliativo?
A Dra Laís esclarece que o momento ideal para oferecer o acesso aos cuidados paliativos é logo no momento do diagnóstico de uma doença que ameaça a vida. Dessa maneira, o paciente consegue participar da elaboração do seu plano de cuidado. Por exemplo, um paciente cujo plano de cuidados tem objetivos paliativos pode e deve ser submetido a cirurgias, quimioterapia e qualquer outro tratamento que seja capaz de tratar um quadro reversível. Tudo que for tratável, deve ser tratado.
A indicação de cuidados paliativos é sempre técnica. É uma conduta que deve ser tomada pelo médico e nunca oferecida ao paciente e seus familiares como um “cardápio”. É função da equipe técnica acolher e explicar ao paciente e seus familiares a evolução natural da doença e os cuidados que são proporcionais a sua condição de saúde, bem como os tratamentos cujo risco é maior que o benefício, que não serão capazes de mudar a condição do paciente
“Estar em cuidados paliativos significa que o objetivo atual do paciente e de sua equipe de cuidado são qualidade de vida e alívio de sofrimento. Não significa que o paciente ou a equipe de saúde desistiram do tratamento. Significa que a prioridade no momento é conforto e dignidade, uma vez que a cura não é mais uma possibilidade. Além disso, estar em cuidados paliativos não é sinônimo de “não ter mais nada pra fazer”. Enquanto o paciente viver, terá muito a ser feito por ele. Mudar a prioridade não é o mesmo que desistir”, conclui a médica.